Se organizar direito, todo mundo chora no fim do mundo

Hoje, sexta-feira 13, saiu o novo álbum da Letrux: Letrux aos prantos.

Conheci o trabalho da Letrux há uns dois anos e desde então sou apaixonada. E esse álbum novo veio num momento em que eu estou pensando exaustivamente em diversas coisas que não têm resposta. Veio num momento em que estou pensando exaustivamente em coisas que me angustiam, mas que não posso lidar da forma mais óbvia possível, pois ando muito, muito ocupada.

Tenho pensado muito em como meu tempo é preenchido, tenho refletido sobre essa exaustão que acompanha toda gente e em como é difícil nutrir as nossas subjetividades e os nossos sonhos. Isso se deve também à leitura do livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, do Ailton Krenak. “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”. Não me lembro a autoria dessa frase, mas concordo. Esse título se relaciona bem com o pânico geral em que estamos vivendo por conta da última pandemia. A gente se preocupa em morrer com um vírus (não desmerecendo a preocupação, é claro), mas esquece que morremos todo dia um pouquinho, que vivemos o fim do mundo todo dia: meio ambiente à míngua, desigualdade social, condições precárias de trabalho, ressurgimento de uma onda fascista, ódio a todo o vapor, o massacre cotidiano da humanidade pelo capitalismo, etc etc etc. Me abalo e me abalo muito. Todo dia uma pitadinha de pulsão de morte em quase todo e qualquer canto do mundo. E todos os anos da sua vida você passa pelo dia da sua morte sem saber.

E aí que às vezes eu me sinto sufocada. Saí de casa perdi o metrô esqueci a chave e começou a chover. Verdadeiramente sufocada, tateando em busca de algum sentido que me lembre o que é ser humana, e não meramente humana-máquina, que por vezes se vê somente anestesiada com as mazelas do mundo e ocupada demais para lidar com questões pessoais. E aí que eu sinto falta de poder parar um pouco, sentir as coisas, digerir as coisas, ter um tempo marcado pelo vazio despretensioso. Porque até a noção de descanso anda sendo esvaziada: a gente descansa só com o intuito de se recuperar para ser produtivo por mais um dia.

Hoje, sexta-feira 13, não tive aula nem estágio. E como estou me recuperando de uma crise de sinusite, decidi que repousaria, então cancelei a aula que daria hoje. E por alguns minutos não soube o que fazer com essa quebra de rotina. E foi me dando uma ansiedade. Aí eu ouvi o novo álbum da Letrux. Na primeira vez que ouvi, estava lavando o quintal, ouvindo com meu fone quebrado, tentando entender as letras enquanto esfregava o chão e tentando não me distrair com o barulho da máquina de lavar. Gostei de algumas músicas, e foi isso. Há umas duas horas decidi parar para ouvir todo o álbum. E foi tão tão diferente poder prestar atenção na música. Sentir a música. Pude até lembrar que chorar é som. Que chorar é bom. E que pra mim não há sentido nenhum em continuar viva se não for pra me encantar com as coisas. Se não for para sentir, para me emocionar – e porque a vida precisa ser mais que produtividade, mais que pagar contas e enriquecer alguém, mais que aparências, mais que viver num invólucro que me impede de tocar o sensível e o dolorido e o que há de humano em mim e resiste apesar das intempéries. Viver é um frenesi.

E, por essa e tantas, felizmente eu estou aos prantos. Quem não?

Obs.: todas as frases em itálico são de trechos de músicas do novo álbum da Letrux.

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