eu passo por aquele caminho e ele continua bonito. faça chuva ou faça sol céu cinza ou céu azul. eu olho todas aquelas árvores e não sinto remorso algum delas. fosse em outro tempo talvez eu desejasse que elas fossem todas queimadas e sumissem dali para todo o sempre. mas não. elas embelezam a paisagem deste que era um dos meus caminhos favoritos. eu não te conheço mas acredito que também era o seu.
no natal eu chorei pelos seus, embora eu nunca tenha conhecido eles. e nem você. e no ano novo eu senti uma agonia imensa ensurdecedora aguda mesmo, bem aqui. e só consegui pensar que não te conheço mas conheço sua agonia. e por conhecer sua agonia talvez eu pudesse te conhecer. mas a agonia, quando não é transformada em poesia ou coisa que o valha, só contempla essa parte feia e suja que a gente – e os outros – quer(em) fugir.
eu não te conheço mas tenho certeza que você não gostaria disso tudo que estamos vivendo. sorte a sua, inclusive. pena que você tem perdido a parte boa também. mas a gente aceita e perdoa e conforma-se, enfim – um dia, quem sabe.
eu não te conheço, e no entanto tenho conhecido diversas pessoas e lugares por você. e embora eu não te conheça, gosto de imaginar do que você gostaria quando conheço lugares e pessoas e sentimentos. porque nem só de agonia se vive ou se sofre.
eu não te conheço mas imagino que você gostaria de ler anna kariênina. chego quase a ter certeza absoluta que você gostaria. eu não te conheço, mas fernando pessoa me lembra você. alberto caeiro, para ser mais específica. quando vier a primavera, o que for, quando for, é que será o que é. eu não te conheço, mas acho que você entenderia.
eu escrevendo todas essas bobagens chorei as lágrimas que você não pode chorar. eu não te conheço, mas acho que você choraria também.
e eu escrevendo todas essas bobagens só queria saber o que você sentiu no segundo antes do fim da agonia.
mas não quero sentir. e é por isso que, embora eu não te conheça mas conheça a sua agonia, eu continuo me esforçando para conhecer outros lados da vida que não só esse onde o sol não bate.
hoje eu sei que aquele caminho repleto de árvores continua sendo o meu favorito.